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No exame do pezinho mais aprofundado, surdez congênita pode ser identificada detectando-se mutação em gene específico
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deficiência auditiva parcial ou integral pode ter causas diferentes,
como fatores ambientais e genéticos, ou a associação delas, que podem ou
não ser evitadas, dependendo do caso. A surdez congênita, porém, pode
ser identificada por um exame do pezinho mais aprofundado, em que é
detectada a mutação 35delG no gene GJB2. “Esta é a mutação pesquisada na
triagem neonatal”, informa o médico Armando Fonseca, diretor do
Diagnósticos Laboratoriais Especializados (DLE), de São Paulo. “Quando a
surdez aparece de forma isolada, é chamada de surdez genética não
sindrômica, sendo a forma mais comum, em que grande parte dos casos está
ligado a esse único gene (GJB2).”
Nos Estados Unidos, metade de todos os casos de surdez não
sindrômica é provocada por mutações nesse gene. Aqui no Brasil, a
estimativa é que quatro crianças apresentem a perda auditiva em uma
relação de mil nascimentos. “A surdez de origem genética ganha grande
importância em termos percentuais, principalmente em países ou regiões
onde ocorreu a diminuição de fatores ambientais, como as doenças
infecciosas durante a gestação”, acrescenta Fonseca.
Além do diagnóstico por meio de um sequenciamento do gene GJB2 para
constatar que existe ou não a mutação 35delG, que custa R$ 150, é
possível a pesquisa de surdez genética de outros genes específicos e
também de origem materna. Na origem materna, a fonte de estudo é o DNA
mitocondrial, onde pode ser observada a presença ou não de uma outra
mutação, chamada A1555G.
Segundo Fonseca, essa mutação que também provoca a surdez está
ligada ao uso de aminoglicosídeos, que é um tipo de antibiótico.
“Portadores desta mutação normalmente não apresentam surdez congênita,
mas a manifestam após a exposição ao medicamento”, explica o médico.
A constatação da surdez pode ser feita a qualquer tempo, mas quanto
mais precoce for a descoberta melhor será o desenvolvimento da criança.
Isso porque o atraso pode comprometer a fala e compreensão e atrapalhar
as intervenções para cada caso. Os exames disponíveis podem ser feitos a
qualquer época da vida, informa Fonseca, mesmo para serem aplicados em
reprodução assistida na seleção de embriões e até durante a gestação -
embora seja pouco comum.
“Na maioria dos casos, é feito assim que há a suspeita de um caso de
surdez de origem genética ou mesmo na triagem neonatal - o teste do
pezinho -, em conjunto à triagem auditiva, o chamado teste da
orelhinha”, informa o médico paulistano. Cada tratamento é escolhido de
acordo com cada caso, podendo ser multidisciplinar, com destaque ao
acompanhamento fonoaudiológico, e cirúrgico, com a indicação médica do
implante coclear, um dispositivo eletrônico de alta tecnologia,
conhecido como “ouvido biônico”, e já realizado no sistema público de
saúde.
Perda gradual da audição
A deficiência auditiva também pode ser causada por má-formação,
lesão na orelha ou nas estruturas que formam o aparelho auditivo,
variando em graus e níveis, informa a otorrinolaringologista e
otoneurologista Rita de Cássia Cassou Guimarães, mestre em clínica
cirúrgica, de Curitiba.
A perda mais comum é a neurossensorial, em que os problemas no
ouvido interno ou no sistema auditivo periférico são provocados pela
poluição sonora, disposição genética, infecções virais, medicamentos,
traumas e o próprio envelhecimento. “Normalmente, ela é permanente e não
pode ser corrigida por medicamentos, mas com aparelhos auditivos,
dependendo do caso, a situação pode ser muito amenizada”, diz a
otorrinolaringologista.
Já a perda condutiva dá-se por um problema no ouvido externo ou
médio devido a um bloqueio que dificulta a passagem do som até o ouvido
interno. Infecções, secreções e calcificações na orelha média, disfunção
na tuba auditiva e rolha de cera (excesso de cera no ouvido) estimulam a
interferência da saúde da audição, mas não são permanentes e podem ser
revertidos com remédios e cirurgias.
Saúde auditiva em primeiro lugar
Muitos estudos estão em andamento para reverter a surdez genética ou
hereditária, como por exemplo a terapia genética, mas ainda em fases
experimentais. Mas a surdez provocada por problemas externos podem ser
prevenidos e/ou amenizados. Segundo a otorrinolaringologista e
otoneurologista Rita de Cássia Cassou Guimarães, alguns sinais clássicos
indicam que a audição está com problemas e precisa receber atenção. A
necessidade de aumentar o volume da televisão ou do rádio, pedir para
interlocutores falarem mais alto ou repetirem o que disseram e ter
dificuldades para compreender diálogos com ruídos ao fundo são alguns
indicativos.
“Pode proteger a audição ao evitar sons acima de 85 decibéis, os
quais podem danificar o ouvido interno. Procurar deixar o volume da TV
ou aparelho de som não muito altos, usar equipamentos de proteção
auricular, quando em atividades de muito barulho, nunca colocar qualquer
objeto, incluindo cotonetes, dentro do canal auditivo, e nunca pingar
remédios ou fórmulas caseiras no ouvido são algumas soluções práticas
para o dia a dia”, orienta o otorrinolaringologista.
Outra ação preventiva é destinada às grávidas. Quando surgir a
necessidade de tomar antibióticos, o médico deve ser consultado sobre se
existe a possibilidade de afetar o feto. Além disso, todas as mulheres
devem estar vacinadas contra rubéola. “Se durante a gravidez elas
contraírem a doença, o bebê corre risco de
nascer com problemas auditivos”, alerta Rita.
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