quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Artigo Interessante !!!

A força do coletivo


Para que o ensino seja inclusivo, deve haver envolvimento dos familiares, da comunidade e da escola em todas as etapas, até mesmo na formulação e aplicação de políticas públicas. Conheça os principais pilares da escola que inclui



Por Augusto Dutra Galery*/ Imagens: Divulgação




POLÍTICAS PÚBLICAS
EM PRIMEIRO LUGAR, é preciso que as políticas públicas estejam em consonância com os princípios da educação especial na perspectiva da educação inclusiva. As políticas públicas referem-se a todos os aspectos de criação e gestão de diretrizes e princípios normativos que se relacionam com o tema em um determinado país ou território. Elas abrangem as instâncias legislativa, executiva e judiciária. Esses princípios e diretrizes são sistematizados em programas, ações, leis e outras medidas.

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Elenir, da Secretaria de Educação de São Bernardo (SP): infraestrutura é uma das preocupações na educação inclusiva
No Brasil, dois documentos devem sempre estar em mente quando são pensadas as políticas públicas regionais para a inclusão na educação. O primeiro é a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, aprovados por meio do Decreto Legislativo no 186, de 9 de julho de 2008 com status de emenda constitucional, cujo artigo 24 se dedica à educação. O segundo é a Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Um terceiro documento norteador importante é a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva.
Professores regentes atuando com os profissionais de Atendimento Educacional Especializado no planejamento semanal pode ajudar na promoção de didáticas mais inclusivas
Considerando esses três documentos, as secretarias estaduais e municipais têm autonomia para propor diferentes medidas para incentivar a inclusão na educação adequadas à cultura e às necessidades de suas regiões. Em São Bernardo do Campo (SP), por exemplo, definiu-se o transporte como uma prioridade da política municipal para garantir a acessibilidade dos estudantes com deficiência às escolas. Isso aconteceu porque, durante uma consulta pública à cidade, que envolveu pessoas com deficiência, familiares, instituições especializadas e escolas, percebeu-se que a qualidade do transporte era essencial para se permitir a acessibilidade dos estudantes. A Secretaria investiu, então, em novos veículos adaptados e no treinamento de motoristas e monitores que acompanham esses alunos, para garantir que o transporte escolar seja parte da educação e contribua para uma relação positiva entre as famílias e as escolas.
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Pais de Maracanaú (CE): preocupação coletiva e interação com escola e orgãos públicos resulta em bons frutos

"A Secretaria tem duas preocupações: a infraestrutura - o carro adequado, com acessibilidade, pensando muito na segurança das crianças - e tem uma outra preocupação que também é importante: é a questão das relações que são constituídas nesse caminho entre escola e residência da criança." A observação é de Elenir Freitas, chefe da Seção de Assistência Escolar da SME de São Bernardo.



"Nesse sentido, a gente trabalha muito com as monitoras e motoristas, porque entendemos que eles têm um papel fundamental na qualidade dessa relação. Para isso, temos formações no sentido de estar preparando monitoras e professores para que essa relação que se constitui seja a melhor possível. Realizamos cursos de LIBRAS para todos os motoristas e monitores que trabalham com pessoas com deficiência auditiva. Fizemos encontros com terapeutas ocupacionais para elas orientarem como lidar melhor com essas crianças em suas especificidades."
É preciso pensar além das instâncias que tradicionalmente fazem parte do processo educacional de um município para garantir acessibilidade, permanência e qualidade da educação para todos nas escolas

O PAPEL DAS ESCOLAS
EM RELAÇÃO ÀS ESCOLAS, duas dimensões importantes precisam ser pensadas: a gestão escolar e as estratégias pedagógicas.

Por gestão escolar podemos entender as diversas etapas de planejamento e desenvolvimento das atividades da direção de uma instituição de ensino. Abrange a construção dos projetos político-pedagógicos, a elaboração dos planos de ação, a gestão dos processos internos da instituição e de suas relações com a comunidade.
As atividades de coordenação pedagógica podem ser pensadas dentro da dimensão da gestão escolar. Na escola Helena Zanfelici, em São Bernardo do Campo, a coordenação pedagógica busca auxiliar as professoras da educação infantil, construindo os parâmetros de avaliação que devem ser acompanhados por eles. Camila Leonel, coordenadora pedagógica, conta que o processo de definição dos itens "observáveis" de avaliação, que deveriam ser registrados, foi realizado em conjunto com os professores.
"Essa construção[coletiva] favoreceu bastante esse relatório, porque elas mesmas [as professoras] já analisam as informações que eu tenho que colocar no relatório para que eu realmente demonstre o processo que a criança teve de aprendizagem e para o próximo professor que receber o aluno saber de onde ele vai partir", explica Camila.
Do ponto de vista das estratégias pedagógicas, é preciso refletir sobre as diversas etapas de planejamento e desenvolvimento das práticas voltadas ao ensino e à aprendizagem. Abrange, entre outros, as atividades do ensino regular, as ações destinadas ao atendimento educacional especializado e o processo de avaliação de todos os estudantes.
A reunião dos professores regentes com os profissionais de AEE na hora do planejamento semanal coletivo por disciplina foi uma estratégia que a escola José Dantas Sobrinho encontrou para promover didáticas mais inclusivas em suas salas.
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Camila, da escola Helena Zanfelici, em São Bernardo do Campo (SP): relatórios coletivos e precisos são ponto de partida para outros professores ou séries acompanharem aprendizagem dos alunos


Tudo começa e tudo termina com a família. A qualidade das relações estabelecidas entre a escola e as famílias dos educandos precisa ser posta em discussão



"Aqui no município, o planejamento passou a ser por disciplina. Então, o que eu faço? Eu vou até esses professores da disciplina daquele dia ou eles vêm até a minha sala. A gente vê se tem um aluno incluído na sala desses professores e nós vamos ver que conteúdo eles estão planejando naquela semana; quais as modificações que a gente pode fazer para ele poder fazer a acessibilidade pedagógica lá na sala de aula, juntamente com o grupo." Quem comenta é Regina da Silva, profissional de AEE da escola.
Os professores que contam com alunos com deficiência auditiva na sala também utilizam os intérpretes de LIBRAS para fazer seu planejamento de aula, de forma a tornar o conteúdo o mais visual possível.
Para saber mais
- O caso da Escola José Dantas Sobrinho está disponível no site do Projeto Diversa, no endereço http://www.diversa.org.br/acervo-de-casos/acervo-de-casos.php?id=2431
- Para conhecer melhor as políticas públicas da cidade de São Bernardo e as estratégias da escola Helena Zanfelici, acesse http://www.diversa.org.br/acervo-de-casos/acervo-de-casos.php?id=2344
- Conheça a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo no link http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D6949.htm
- Entenda a Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional acessando http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ l9394.htm
- Para ter acesso à Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva visite o site http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/politica.pdf

ALÉM DOS MUROS
ATÉ AQUI, NOS REFERIMOS DIRETAMENTE às instâncias que tradicionalmente fazem parte do processo educacional de um município ou Estado. Mas é preciso se pensar mais amplamente para garantir acessibilidade, permanência e qualidade da educação para todos nas escolas públicas. Faz-se necessário refletir sobre as relações estabelecidas entre a escola e os atores externos que atuam para dar apoio aos processos de educação inclusiva. Esses são os parceiros do processo de inclusão que podem ser pessoas físicas ou jurídicas, públicas ou privadas, e abrangem as áreas da educação especial, saúde, educação não-formal, assistência social e outros.

Como a história de Cláudia, de Maracanaú, deixa claro, no entanto, tudo começa e tudo termina com a família. A qualidade das relações estabelecidas entre a escola e as famílias dos educandos precisa ser posta em discussão. Essa relação abrange o envolvimento da família com o planejamento e o desenvolvimento das atividades escolares e contempla tanto as relações que favorecem a educação inclusiva, como as situações de conflito e resistência. Às famílias cabe a responsabilidade do controle social sobre as políticas e práticas das escolas e secretarias de educação.

* Augusto Dutra Galery, pesquisador do Instituto Rodrigo Mendes e coordenador do projeto Diversa, é psicólogo, mestre em administração, doutorando em Psicologia Social e especialista em Sociedade Inclusiva.

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