quarta-feira, 20 de abril de 2016

Disfunção de Processamento sensorial no Transtorno do Espectro Autista


Por Ana Elizabeth Prado 

 

“Não há como escapar à fome da alegria!”

Ao ler o poema da Adélia Prado, ” A menina e a fruta”, esta frase ficou reverberando em mim. Não só como ensinamento de vida, mas principalmente  pela compreensão que atribuo ao comportamento de algumas crianças com quem convivo em meu dia-a-dia como terapeuta ocupacional.

A imagem-sensação foi se construindo pela lembrança cúmplice do corre-corre  sem destino e direção de algumas crianças, de seus gritos, choros ou o riso mal compreendido. Até mesmo o não poder olhar de frente para o outro, tipo olho-no-olho,  o balançar incessantemente das mãos ou o bater repetidamente em seu corpo e nos objetos. Aparentemente, atitudes sem função.
 
O que fazemos quando não estamos no estado de equilíbrio ou fora de sintonia ? 
 
Do ponto de vista da teoria de Integração Sensorial há crianças com dificuldades em processar as várias informações sensoriais que acontecem o tempo todo no ambiente e em seu corpo. E uma parcela com Transtorno do Espectro Autista.É comum adotarem comportamentos não reconhecidos socialmente devido a diversos motivos, tais como:
– necessidade de se proteger da sobrecarga de estímulos sensoriais. Pentear o cabelo ou alimentar-se pode se tornar uma situação aversiva.
– procura demasiada pelos estímulos  sensoriais para validar a percepção das informações. Balançar-se pode alimentar a sensação do próprio corpo.
– inabilidade para integrar mais de uma informação sensorial. Olhar para o outro enquanto fala requer a habilidade de integrar várias informações.
– dificuldade no planejamento motor. A organização do corpo no tempo e espaço começa pelo ensaio do domínio corporal, que, no mínimo, é sensório-motor.
– dificuldade de organizar-se quando muda rotina ou o ambiente. Morder-se, bater e gritar pode ser uma forma de expressar a inabilidade de entender as mudanças do tempo e espaço.
-dificuldade em brincar e comunicar-se. O  desenvolvimento natural destas habilidades depende da autorregulação neurológica para incorporar a dimensão social.


A Terapia de Integração Sensorial começa pelo entendimento das necessidades e desejos da criança.

Compreendendo a causa pode se criar condições para aprender a lidar com a realidade em que vive.

Nesta abordagem terapêutica não queremos “consertar” nenhum comportamento. Queremos chegar a um ponto que tais comportamentos sejam minimizados em prol da ampliação de horizontes.

Que tais atitudes não sejam mais o foco, mas sim, o desenvolvimento das habilidades.

Criamos um ambiente onde a criança possa descobrir novos jeitos de relação com seu próprio corpo e o meio com brincadeiras sensoriais que, aos poucos, ajudam a maturidade neurológica. Durante o programa a criança irá conhecendo sobre ela, do que gosta, e do que é possível, inclusive transpondo para além da terapia. A família também passa a conhecer os recursos em que a criança pode usar na escola e em casa para melhorar o estado de presença nos diversos meios em que convive.


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Retomando a frase da Adélia Prado eu diria que alguns comportamentos podem refletir a fome ou a falta de algo, e que, às vezes, podem ser as condições mínimas para brincar e comunicar… como a alegria!

Propiciar essas condições me faz ter a certeza que este tipo de terapia não é para condicionar, mas sim para descondicionar um padrão que foi estabelecido devido a alguma dificuldade.

Acreditando que o caminho é pela, para e a partir da própria criança.

Quer saber mais? Acesse outras postagens no blog.


Segue abaixo o link referente a mais um estudo relacionando as dificuldades de pessoas com autismo na área de processamento sensorial. Alguns comportamentos sociais diferentes surgem daí.

Por isso é necessário uma avaliação de um terapeuta ocupacional especializado em Integração Sensorial para compor um programa adequado para cada criança.


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